O ritmo, mar, o
ritmo, o verso, o verso!
Dá ao meu verso,
mar, a ligeireza,
a graça de teu
ritmo renovado.
Eu sou, mar, tu
bem sabes, teu discípulo.
Que nunca digas,
mar, que não foste meu mestre
Cantam em mim, ó
mestre mar, metendo-se
pelos largos
canais que há nos meus ossos,
das tuas que são
como ondas mestras,
que a ti voltam de
novo num unido,
só e mesclado mar
de minha boca
Gil Vicente,
Machado, [ ... ]
Baudelaire, Juan
Ramon, Rubén Darío,
Pedro Espinosa,
Góngora... e as fontes
que em minha
aldeia cantam pelas praças.
Sento-me, mar, a
ouvir-te
Te sentarias tu,
mar, para escutar-me?
Tens a vaidade, o
desmedido orgulho
de saber que meus
versos são sempre em teu louvor.
Vais largando,
praia, terra que te susteve.
Nada em teu
coração, nada em teu ventre.
Equivocado, o mar
solta uma andorinha.
Rompe o mar
tamarindos pela espuma.
Guano marinheiro:
"venta" de humilde mar "varado".
"Venta"
de pobres ventos,
de modestos
crepúsculos,
de albas
arruinadas.
Preamar silencioso
de meus mortos.
Ellos, quizás, los
que os están limando,
Eles, talvez, os
que vos vão limando
ruivas rochas
distantes.
Se te escutasses,
mar, se tua linguagem
pudesse, mar, ser
outra,
que palavras
dirias?
De qualquer modo,
mar, soas o mesmo
e continuas
parecendo com teu velho retrato.
Mar; às vezes,
sentado não se sabe em que assento.
Vê-se que, mesmo
querendo,
mar forçudo, não
podes.
Aqui jaz o mar.
Nem ele mesmo
soube jamais o
número de ondas
que desfez o seu
sonho.
Aqui jaz o mar.
Gostaria
de ter sido
marinheiro, desde menino.
Aqui jaz o mar.
Ninguém teve,
como ele, um
caixão
pregado com
estrelas.
Aqui jaz o mar. A
morte
sentada ereta, na
praia, a contemplá-lo.
Aqui jaz o mar.
Devesse
jazer também o céu
sobre seu túmulo.
O mar morreu. Não
tinha
para o amor mais
força que a de um menino.
Quem seria, mar,
capaz de escrever-te o epitáfio?
Quero, mar, que em
meu dia,
que resta, hoje
mesmo
morras tu também.
Cada manhã e o mar
fecha os dentes.
Hoje, mar,
amanheceste com mais meninos que ondas.
Sim, mar, eu sei,
tu és para mim a outra margem.
Mas me disseste,
mar, mar
mar do colégio,
mar dos telhados
que outras praias
tuas, tão distantes,
ia eu chorar,
sedado, mar, por ti,
mar do colégio,
mar dos telhados.
Decerto te botei,
mar guri, em minha frente
e ali foste
crescendo em ondulagem
até que te fizeste
mulher
e homem ao mesmo
tempo.
Menino, eu queria
patinar em tuas ondas,
mar do Sul,
impossível ao coração de gelo.
Menino mar, não
sabes?
ele te pintava
sempre a aquarela.
Sábado o mar solta
um cavalo branco...
e deixaste
dormindo.
És de súbito,
igual a uma criada
velha, gruñona e
doce, que tinha minha mãe
A areia, quente
Geladas as ondas.
Os que morreram
Maruja, vão te
chamar.
Ferozes leões.
Furiosos cavalos.
Mas se são de
espuma
Quem pode
domá-los?
Inclinei-me para
ver o mar. E vi apenas
uma mulher
chorando
contra o quarto
minguante de uma lua crescente.
Mar, andei à tua
procura
esse imortal
sorriso...
porém não o
encontrei.
Rico, até mesmo
sem ver, de suspiros mortos.
Saíste de ti
mesmo, levando contigo a praia...
mas te
horrorizaste de ti mesmo, e voltaste.
Que estás
pensando, mar dos veranistas?
Tu gostarias, mar,
de andar de bicicleta,
dar um grande
passeio pelas namblas
alugar uma barraca
verde
e
"cumbar-te" na praia
como um mar
qualquer
descansando do
banho?
(Vinícius de
Moraes)
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Beijinhos