Intimidade – Martha Medeiros
“As pessoas
desancam o casamento. Dizem que o amor míngua, que o sexo começa a rarear, que
a rotina é acachapante. Dizem, dizem, mas as pessoas seguem casando e
mantendo-se casadas por quilométricos anos. Qual é a boa dessa história? Uma joia
chamada intimidade. Íntimos, muitos acreditam, são duas pessoas que possuem
relações físicas e emocionais entre si. É bem mais que isso. Intimidade é você
não precisar verbalizar tudo o que pensa, é aceitar a solidão do outro, é
estarem familiarizados com o silêncio de cada um. Intimidade é não precisar
estar linda em todos os momentos, não precisar ser coerente em todas as
atitudes, é rirem juntos de uma história que só eles conhecem o final.
Intimidade é ler
os olhos, os lábios e as mãos de quem está com você. Mais do que repartir um
endereço, é repartir um projeto de vida. Não basta estar disponível, não basta
apoiar decisões, não basta acompanhar no cinema: intimidade é não precisar ser
acionado, pois já se está mentalmente a postos.
Intimidade é não
ter vergonha de ser o que a gente é, é não precisar explicar coisa alguma, ser
compreendido e brigar sabendo que nada irá se romper. Intimidade é não precisar
andar na ponta dos pés pelos corredores de uma vida compartilhada.
Muitos mantém-se
casados por causa desse idílio que é não precisar se anunciar todo dia como um
investimento seguro, podendo inclusive usar aquelas camisetas puídas e comer o
"s" de um palavra no plural sem que a sua cotação desabe. Só há uma
coisa ruim na intimidade: a falta que faz um pouco de cerimônia.
Calcinhas
penduradas no banheiro, o telefonema sempre na mesma hora da tarde, o arroto
que dispensa o pedido de desculpas, o lençol amarfanhado, a TPM todo santo mês,
o mesmo perfume, as mesmas reações, o mesmo cardápio. O lado negro de um
matrimônio feliz.
O casamento dá uma
intimidade rara, apaziguadora, salutar. Não há máscaras nem teatro: é o habitat
natural de um homem e de uma mulher que se querem como são. A intimidade salva
as relações extensas, a não ser quando as corrói. Contradição maquiavélica. O
melhor e o pior dos mundos, nos obrigando a escolher entre o habitual e a
novidade, entre a paz e a adrenalina, entre a rede e o salto. Sedução x
segurança: que vença o melhor."
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Beijinhos
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